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Capacitações destacam importância do acolhimento na prevenção a suicídios

Capacitações destacam importância do acolhimento na prevenção a suicídios

Cerca de 350 pessoas no total, entre agentes comunitários de saúde, profissionais da enfermagem, medicina, pedagogia e assistência social, além de usuários do SUS e população em geral, participaram das capacitações sobre prevenção a suicídios, realizadas pela secretaria de Saúde da Prefeitura de Ubatuba ao longo do mês de setembro.

Dois momentos-chave desse processo foram as formações realizadas nos dias 19 de setembro, na Unitau, e 28 de setembro, no salão da Igreja São Francisco. “O suicídio, assim como as doenças mentais, são um problema sério que merece a atenção de todos os agentes da rede de assistência”, destacou Grazielle Bertolini, secretária de Saúde de Ubatuba, durante a abertura da atividade do dia 28.

Orientações

Acolher, escutar, deixar falar a pessoa que dá indícios de desesperança e falta de vontade de viver, sem julgar ou debochar, é a primeira orientação, válida tanto para os familiares quanto para quem trabalha na rede de Estratégia de Saúde da Família (ESF) e outros equipamentos da rede pública.

Problemas financeiros, abuso e violência doméstica, luto mal elaborado, bullying na escola (como agressões ou isolamento social), transtornos mentais, principalmente esquizofrenia e depressão, dependência de álcool e outras drogas são alguns dos fatores de risco que levam ao suicídio. “É preciso estar atento a mudanças de comportamento e sinais como tristeza, desamparo, solidão, desesperança e auto-desvalorização”, explicou Olivia Samersla, enfermeira do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Ubatuba.

“O acolhimento é tão ou mais importante que o medicamento”, destacou o psiquiatra e psicanalista Joaquim Machado Júnior, do CAPS. Porém, caso o paciente apresente sintomas de depressão e outros fatores de risco, é urgente encaminhá-lo para os serviços de saúde mental como a Santa Casa ou o CAPS.

Outra dúvida comum levantada nas atividades foi sobre os tipos de medicação, o tempo de duração de um tratamento e as doenças que podem levar a um quadro de suicídio, principalmente sobre a importância de detectar e tratar a depressão para que não evolua para ato extremo, além da importância do preenchimento da notificação para saber qual a dimensão do problema no município.

Exemplo

A aposentada Mary Daisy Thomaz Bueno, que mora em Ubatuba há 20 anos, participou da atividade no dia 28 e reforçou a importância do acolhimento. “Estou viva e curada graças ao amor, carinho e atenção da equipe de saúde mental, à qualidade de vida e ao conhecimento que me proporcionaram”, conta Mary, que havia tentado o suicídio duas vezes.

Hoje ela frequenta diferente atividades terapêuticas proporcionadas gratuitamente tanto pelo CAPS, quanto pelo CREAD – Centro de Referência de Álcool e Drogas, Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba (Fundart) e outros espaços.

Números alarmantes

Em Ubatuba, os dados chamam a atenção. “Somente em 2017, foram registradas seis mortes em decorrência de atentado contra a própria vida e 11 tentativas de suicídio”, segundo dados apresentados por Samersla. “Os dados mostram que o suicídio atinge gente de todas as faixas etárias e em diferentes situações sociais – aposentados, despregados, trabalhadores na ativa”, agrega. Nos últimos 15 anos, houve um aumento de mais de 30% de suicídios entre jovens de 15 e 29 anos.

Samersla lembrou que um suicídio afeta diretamente pelo menos seis pessoas, além de toda a comunidade. “Por isso temos um trabalho de pósvenção, de acolhimento principalmente à família do suicida e a quem convivia com ele”. Outro dado apresentado mostra que 78% das pessoas transgêneros já pensaram em se suicidar e 44% tentaram. “Isso indica que temos que acolher, escutar e aprender a aceitar a pessoa transgênera”.

Os atentados à própria vida também aumentam após desastres naturais como terremotos ou furacões. Em Mariana (MG), houve três suicídios e oito tentativas após rompimento de barragem que provocou desastre ambiental. “Isso chama atenção do poder público para a necessidade de estar alerta aos impactos desses desastres na saúde mental da população”, finaliza Olivia.

Automutilação de adolescentes

Cortar-se, arranhar-se, beliscar-se, arrancar cabelo na nuca, cílios e outros pelos são diferentes formas que crianças e adolescentes manifestam sofrimento. Muitas vezes esses hábitos surgem porque o adolescente não sabe lidar com as frustrações. “O hábito não é sinônimo de transtorno de personalidade e nem sempre vem acompanhado de um trauma. A maioria das vezes esse comportamento está relacionado aos transtornos humanos como ansiedade,  depressão e bipolaridade”, afirmou a psiquiatra infantil Marcela Pellegrino, na palestra da tarde do dia 28.

Os fatores mais comuns que podem levar à automutilação são baixa renda, repressão paterna e convívio com alcoolismo, depressão materna, superlotação em casa e conflitos entre os pais. Diante desse quadro, dois pontos foram destacados: a educação calorosa e cheia de amor pela família e a importância da existência de uma rede de saúde eficaz.

 

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