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Técnicas milenares são utilizadas no restauro do Sobradão do Porto de Ubatuba

Técnicas milenares são utilizadas no restauro do Sobradão do Porto de Ubatuba

Já está em fase de finalização os trabalhos de restauro da cobertura do Sobradão do Porto de Ubatuba, único casarão da cidade que restou dos tempos do ciclo do café. Ele foi construído em 1846 e declarado patrimônio em 1959 pela Secretaria do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Arquitetônico Nacional – SPHAAN.

“Substituímos parte do madeiramento do telhado, limpamos todas as peças de maneira manual para retirada de líquens e de vegetação e lavamos cada telha uma a uma”, explica Antonio Luis Ramos Sarasá Martin, do Estúdio Sarasá, conservador responsável pelo acompanhamento do restauro.

Para se ter uma idéia do trabalho, os 380 metros quadrados da cobertura do Sobradão correspondem a cerca de 6.000 telhas. “A maior parte delas passou por três etapas de limpeza. A primeira mais grossa, a segunda mais fina, com uma escova, e a terceira de finalização com jato d’água. Algumas foram substituídas por telhas de tamanho similar ao original, que é de 60 cm de comprimento por 22 de largura”, conta Toninho Sarasá, como é mais conhecido.

O trabalho no telhado envolveu ainda a hidratação de todo o madeiramento com óleo de linhaça, a descupinização e a substituição de partes apodrecidas, assim como a colocação de manta de subcobertura para aumentar a proteção. “As telhas também estão sendo todas amarradas para não haver problemas de deslocamento”.

O mesmo tratamento será feito na madeira dos caixilhos externos – isto é, batentes, portas e janelas. “Toda marcenaria que estiver comprometida vai ser substituída com o mesmo desenho do original. Além da conservação preventiva com hidratação e aplicação de cupinicida, esses itens receberão um fundo preparador e pintura com tintura à óleo”.

Técnica milenar na recuperação da fachada

Com a conclusão da cobertura, começa já nesta semana a recuperação da fachada principal, que envolve a limpeza e erradicação da vegetação e, em seguida, o resgate dos adornos e elementos escultóricos e a pintura. Esse trabalho na fachada é feito com o uso de argamassa de restauração, à base de cal, uma técnica tradicional utilizada há mais de 500 anos na região e no Brasil. “Essa argamassa é compatível com a tipologia construtiva do casarão, que é de tijolos e taipa de mão. Ela deixa que a casa transpire, retém menos umidade interna na parede e retarda a proliferação do mofo”, explica Toninho.

Ele acrescenta que, diferente das tintas modernas impermeáveis, como a acrílica, que deixam as pinturas com um aspecto plástico, a textura da pintura feita com a cal e colorida com óxido de ferro (o pó xadrez) fica aveludada, similar à pele. Ela é mais resistente e também antibactericida. “O processo químico chamado de extinção da cal faz com que ela se transforme em carbonato de cálcio e volte a ser pedra”.

Toninho lembra que em todo o litoral brasileiro, nos fortes e nas construções mais antigas, as conchas do mar eram utilizadas como substituto ao mármore, fonte do carbonato de cálcio, cujas jazidas eram de difícil acesso. “E é por isso que aqui na região e em outras cidades do litoral, como Paraty e  São Vicente, encontramos muitas conchinhas nas argamassas: elas eram o material ligante”. A técnica é milenar. Ela já apareceu há mais de 10 mil anos na Palestina, em Jericó, era muito comum também no Egito e hoje é utilizada pela Unesco na reconstituição do patrimônio histórico no mundo inteiro.

Patrimônio histórico, riqueza de Ubatuba

O restauro do patrimônio histórico é um trabalho de recuperação da identidade cultural da cidade. “O casarão em si não é patrimônio histórico se a população não atribui esse valor a ele, se não há reconhecimento desse bem pela sociedade”.

Por essa razão, a partir de março, o Estúdio Sarasá, em conjunto com a Prefeitura de Ubatuba, a Fundart, o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – e o Ministério da Cultura, vai convidar a população de Ubatuba a participar de conversas para conhecer a fundo o processo de restauro que vem sendo feito e as possibilidades.

“Ubatuba é muito rica em patrimônio histórico e é preciso redescobrir esses pontos e coloca-los a serviço da sociedade, pois elas contam a história da população e estabelecem uma ponte entre as gerações passadas, a presente e a futura”, enfatiza o prefeito Mauricio.

 

Fiscalização e memória das intervenções

Além do resgate da cobertura, a primeira fase do restauro do Sobradão, que é classificada como emergencial, envolve o trabalho de recuperação da fachada e das portas e janelas externas com vistas a impedir a entrada d’água e não deteriorar ainda mais o edifício. As obras começaram em dezembro e devem ser concluídas até agosto de 2016. Ao mesmo tempo, busca-se conseguir recursos para fazer também o restauro interno do Sobradão.

O trabalho é acompanhado por uma comissão formada pelo IPHAN, a Fundart e a Secretaria de Obras da Prefeitura de Ubatuba. A última vistoria do IPHAN foi feita no dia 3 de fevereiro. Todas as etapas são registradas, com boletins de medição e relatórios da fiscalização do IPHAN, bem como catalogação do material para que a memória dessa intervenção fique para a geração futura.

A equipe do Estúdio Sarasá trabalha há mais de 30 anos com restauro e inclui em seu curriculum projetos como o do restauro do Teatro Municipal de São Paulo, da Catedral de Brasilia e o Museu de Arte Sacra de São Paulo, bem como todos os fortes e fortalezas do litoral paulista como o forte de Bertioga.

Para saber mais sobre o Casarão, visite o link http://fundart.com.br/dt_portfolio/sobradao-do-porto/

Para conhecer o trabalho do Estúdio Sarasá, visite a página: http://estudiosarasa.com.br/

 

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